CLÃ - "ROSA CARNE" - ¨*****
«Rosa Carne» é de tal forma dependente da ideia de álbum, de tal forma estão as canções enganchadas umas nas outras e com necessidades físicas das restantes para deixarem a timidez e se mostrarem na sua plenitude, que só de pensar na hipótese de os seus temas serem «vendidos» a sua imagem mental mirra pelos efeitos secundários da inadequação.
Uma coisa é certa: «Rosa Carne» é, de caras (e de coração e de cabeça e de estômago), o melhor álbum dos Clã. Mas é simultaneamente a sua criação mais arriscada, talvez entusiasmada pelo trabalho desenvolvido para acompanhar as imagens de Nosferatu, certamente prescindindo do imediatismo pop que marcava fortemente Lustro. Não quer isto dizer que que Rosa Carne não seja um disco de canções. É-o, mas de um outro modo, mais subtil, tratando a imensa sensualidade que orbita em sua volta da forma insinuada que se revela mais entusiasmante que aquela inteiramente escarrapachada em letras garrafais e com setas luminosas a apontar para o seu interior. Agora as canções do colectivo portuense são pequenos e delicados báus cheios de fundos falsos, exigindo não desistir ao embate inicial, não desistir face à estranheza que ocupa a cadeira da primeira fila. Há que insistir, ir preparando com uma lanterna, ultrapassar a névoa e, enfim, ser esmagado pela beleza esmagadora que é ouvir a voz de Manuela Azevedo acariciada por arranjos de uma riqueza nunca antes ouvida aqui ou na pop nacional.
(...)
Gonçalo Frota / BLITZ, 27.04.2004
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