26/01/2005

Borodin
Fomos ontem à praça para ouvir os fenomenais Borodin. Tocaram Mozart, quinteto com clarinete, em Lá M, KV581 (com Michael Collins) e dois dos seis quartetos de Mozart dedicados a Haydn, o KV465, dito "das Dissonâncias" e o KV421, em ré m.
Falar do Quarteto Borodin é falar dum agrupamento que adquiriu uma aura quase lendária na interpretação musical do século XX. Uma aura que é fruto duma longevidade incomum (a formação remonta a 1945) e duma qualidade inquestionável, esta uma condição necessária para o longo percurso do Quarteto.Nos primórdios, chamavam-se Quarteto Filarmónico de Moscovo e entre os pais fundadores contavam-se Rudolf Barshai (viola) e Mstislav Rostropovitch (violoncelo), este substituído a breve trecho por Valentin Berlinsky (n. 1925), que é ainda hoje, aos (quase) 80 anos, o violoncelista do grupo. Será só em 1955 que a formação estabiliza, com Rostislav Dubinsky (violino 1), Yaroslav Alexandrov (violino 2), Dmitri Shebalin (violeta) e Berlinsky (violoncelo)... até 1974, data em que Alexandrov dá o seu lugar a Andrei Abramenkov (ainda hoje o violino 2). Um golpe maior foi a perda de Dubinsky, considerado o esteio do grupo, que desertou para os Estados Unidos em 1976, onde viria a formar o Trio Borodin com Luba Edlina e Yuli Turovsky.O seu sucessor foi Mikhail Kopelman e, a partir de 1996, Ruben Aharonian. Ainda em 1996, após 42 anos «de Borodin», Dmitri Shebalin cede o lugar a um seu discípulo (e de Yuri Bashmet!) Igor Naidin. É, pois, na versão Aharonian, Abramenkov, Naidin e Berlinsky (ao qual cabe sempre a decisão sobre as sucessões) que iremos ouvir os Borodin em Lisboa. Refira-se ainda que, praticando amiúde o repertório de câmara com piano, o Quarteto teve em Sviatoslav Richter um parceiro habitual.shostakovitch. Uma figura à qual este Quarteto estará sempre associado é o compositor Dmitri Shostakovitch (1906-1975), por força do extraordinário legado de 15 quartetos de cordas que nos deixou - e que os Borodin tocaram integralmente na Gulbenkian, em cinco recitais, em Maio de 1994. Apesar de não terem estreado nenhum dos quinze, os Borodin foram merecendo a crescente atenção e consideração do compositor de Leninegrado, que viria a acompanhar pessoalmente o grupo no trabalho de montagem desses quartetos. Aliás, coube aos Borodin a «honra» de estrear os quartetos de Shostakovitch no Ocidente e a primeira integral discográfica, realizada em 1970 (ainda só os quartetos 1-13, já que os outros são posteriores). Eles viriam a realizar uma segunda integral treze anos depois, desta feita, naturalmente, incluindo a totalidade das obras. repertório. Com uma história tão longa e rica, há de tudo um pouco no repertório dos Borodin, desde Haydn a Shostakovitch, passando por Mozart, Beethoven, Schubert, Brahms, Dvorák, Tchaikovsky, Ravel, Debussy e... Borodin, claro. Mas é inegável que o «núcleo duro» do seu percurso é constituído pelos 16 quartetos (mais a Grosse Fuge) de Beethoven e os quinze de Shostakovitch, obras que contam apresentar em conjugação (cobrindo-as na totalidade) ao longo deste ano.A extensa discografia dos Borodin encontra-se espalhada pela EMI, BMG/Melodiya, Teldec, Virgin Classics e, mais recentemente, a Chandos. Para esta etiqueta britânica, o grupo está neste momento a completar uma nova integral dos quartetos de Beethoven foi há dias editado o quarto volume (os outros são do ano passado), contendo os op. 127 e op. 132. Outras edições recentes foram um disco Brahms (Quinteto com clarinete, op. 115)/Mozart (Quarteto KV421) e, curiosamente, a reedição da gravação dos Quartetos 1-13 de Shostakovitch de há 35 anos! O que ilustra bem o equilíbrio entre passado e presente de que se faz o carácter lendário do Quarteto Borodin.

1 comentário:

Anónimo disse...

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