22/03/2005

Animal Collective «Sung Tongs»

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Veio parar à Alcofa, algures de uma efervescente praça em Brooklyn, NYC, mais um disco fantástico. Deixo aqui a opinião transcrita da folha informativa da Ananana.

De anos a anos surge um disco que, para lá de todo o seu génio e brilho ou como parte integrante dele, consegue transcender o acto do próprio artista ou grupo de pessoas que o realizam e obter uma inefável noção de universalidade. Como se uma era, em que milhões de acontecimentos e incidentes, vibrações planetárias, sensações, dúvidas que nos surgem em formas inverbalizáveis, se conseguissem materializar e transcender, ali, em música. Tal como alguns álbuns que vieram antes de «Sung Tongs», sejam eles «Daydream Nation», «The Velvet Underground & Nico», «Ramones» ou a obra completa de Robert Johnson, são discos que conseguem encapsular o ano em que foram feitos e os que o precederam de uma forma tão abstracta quanto palpável, gloriosamente adensando esse conjunto aglutinante com uma voz artística completamente nova. Uma nova cadência, uma nova forma de pensar
música, um novo espectro de sentir, imaginar e concretizar. Não poderia ser mais apropriado o facto de «Smile» ter sido finalmente editado de forma oficial no ano de «Sung Tongs», mas o último álbum dos Animal Collective, apesar de beber a momentos dos melhores Incredible String Band, Holy Modal Rounders ou Syd Barrett, é um produto da cena de Brooklyn, maior polo criativo e «melting pot» da civilização ocidental, um álbum que só foi possível no «burrough» de onde despontaram Black Dice, Excepter ou Gang Gang Dance. Uma monumental tripe telúrica e urbana, ponto de cruzamento perfeito entre os idiomas folk e as descargas de electricidade nascentes em 2004. No fim de tudo isto estão duas almas, Avey Tare e Panda Bear, David Porter e Noah Lennox, que perante todos estes factores, conseguiram, com infinito sucesso, colori-los de vida e luz, dar-lhes um sentido, fazer de toda a confusão de uma época um espaço onde vozes criativas encontram uma série de novas formas de expressão, impossíveis antes.